19/12/11

A Sombra do Vento


"Riu nervosa.
- Não sei o que me deu. Não te ofendas, mas às vezes uma pessoa sente-se mais à vontade para falar com um estranho do que com as pessoas que conhece. Porque será?
Encolhi os ombros.
- Provavelmente porque um estranho nos vê como somos, e não como quer acreditar que somos.
- Isso também é do teu amigo Carax?
- Não, isto acabo eu de inventar para te impressionar.
- E como me vês tu a mim?
- Como um mistério.
- Esse é o elogio mais estranho que alguma vez me fizeram.
- Não é um elogio. É uma ameaça.
- Porquê?
- Os mistérios é preciso resolvê-los, averiguar o que escondem.
- Se calhar decepcionas-te ao ver o que há lá dentro.
- Se calhar surpreendo-me. E tu também.
- O Tomás não me tinha dito que tivesses tanta lata.
- É que a pouca que tenho a reservo toda para ti.
- Porquê?
Porque me metes medo, pensei."

In A Sombra do Vento de Carlos Ruiz Zafón

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