28/02/12

Crescimento



"Por vezes retiram-te o mundo e varrem os restos dos desaparecidos para debaixo do tapete. E há alturas em que, por acidente, nos acercamos do chão, demasiado próximos como que em confidência, e recordamos que, algures, por aí, existe quem nos recorde as marcas que tivemos outrora e que agora só ardem de quando em vez. Por tudo isso, juntamos os molhos de fotografias usadas e que não ousámos deitar fora, os lápis de cor da infância que tanto tempo desenharam; as roupas já gastas e que não se apegam mais ao corpo, como os outros que nos cercam: por fim, tudo se junta no centro da sala exangue: exorcisam-se os olhares de desejo que nos tocaram ao de leve e , depois de tudo, olhando sofrêgos pelo tapete, deparamo-nos com aquilo que já lá não está e não sabemos mais quem somos."

Sérgio Xarepe


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