26/03/12

A alma não tem borbulhas!


Photo:Anne Geddes
"Desces a avenida como se estivesses num desfile de moda. Os passos são largos e não ousas olhar para lado nenhum, senão para o caminho que segues. Nem os piropos dos trolhas que trabalham nessa urbanização ainda em construção te incomodam.
Apenas um erro! Não ergues a tua face para cima. Não olhas o céu com intenção de o tocar, com vontade de lá chegar, ambição de lhe pertencer. (…)
Eu observo-te dentro do meu carro. Tu não me consegues ver. Todas as tardes te espero. Como uma criança que, ao fim do dia, aguarda a mãe no infantário, para a levar para casa. Tu levar-me-ás ao céu, nesse instante, em que olharás para os lados, para atravessas a rua e assim, me verás estacionado. Porventura sabes que espero por ti. Ou, se calhar. Já não te lembras de mim, nem do papel que me deste um dia, há dez anos, quando troçamos de ti, da tua pele e dos teus óculos estilo fundo de garrafa. Ainda guardo o recado que deixaste na minha mesa de Trabalhos Manuais – as aulas em que mais gozávamos contigo. Trago-o comigo todas as tardes em que te observo a regressas a casa. Na esperança de um dia ter coragem para te abordar e perguntar que querias tu dizer com a mensagem....
“A alma não tem borbulhas”
In Horas Vagas de Rui Fonte 

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