21/09/12

Carta de um Pai ao filho



"Amado Filho,

O dia em que este velho já não for o mesmo, tem paciência e compreende-me.

Quando eu derramar comida sobre minha camisa e esquecer-me de como amarrar os sapatos, tem paciência comigo e lembra-te das horas que passei a ensinar-te a fazer as mesmas coisas.

Se quando conversas comigo, repito e repito as mesmas palavras e sabes de sobra como termina, não me interrompas e escuta-me. Quando era pequeno, para que dormisses, tive que contar-te milhares de vezes a mesma estória até que fechasses os olhinhos.

Quando estivermos reunidos e, sem querer, fizer as minhas necessidades, não fiques com vergonha e compreende que não tenho a culpa disto, pois já não as posso controlar. Pensa quantas vezes quando eras menino, te ajudei e estive pacientemente a teu lado esperando que terminasses o que estavas a  fazer.

Não me reproves porque não queiro tomar banho; não me chames a atenção por isto. Lembra-te dos momentos que te persegui e os mil pretextos que tive que inventar para tornar mais agradável o teu banho.

Quando me vires inútil e ignorante na frente de todas as coisas tecnológicas que já não poderei entender, suplico-te que me dês todo o tempo que seja necessário para não me magoares com o teu sorriso sarcástico.
Lembra-te que fui eu quem te ensinou tantas coisas.

Comer, vestir e como enfrentar a vida tão bem com o fazes, são produto do meu esforço e perseverança.

Quando em algum momento, enquanto conversamos, eu chegue a esquecer-me do que  estávamos a falar, dá-me todo o tempo que seja necessário até que eu me lembre, e se não posso fazê-lo não fiques impaciente; talvez não fosse importante o  que falava e a única coisa  que queria era estar contigo e que me escutasses nesse momento.

Se alguma vez já não quero comer, não insistas. Sei quando posso e quando não devo.

Também compreende que, com o tempo, já não tenho dentes para morder, nem gosto para sentir.

Quando minhas pernas falharem por estarem cansadas para andar, dá-me a tua mão terna para me apoiar, como eu o fiz quando começaste a caminhar com suas fracas perninhas.

Por último, quando algum dia me ouvires dizer que já não quero viver e só quero morrer, não te enfades. Algum dia entenderás que isto não tem a ver com seu carinho ou o quanto te amei.

Trata de compreender que já não vivo, senão que sobrevivo, e isto não é viver.

Sempre quis o melhor para ti preparei os caminhos que deves  percorrer.

Então pensa que com este passo que me adianto a dar, estarei a construir para ti outra rota  noutro tempo, porém, sempre contigo.

Não te sintas triste, enojado ou impotente por me ver assim. Dá-me o teu coração, compreende-me e apoia-me como o fiz quando começaste a viver.

Da mesma maneira que te acompanhei no teu caminho, peço-te que me acompanhes para terminar o meu.
Dá-me amor e paciência, que te devolverei gratidão e sorrisos com o imenso amor que tenho por ti.

Atenciosamente,

O Teu Velho"

Autor: Levi da Silva Barreto

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