04/11/12

A Trapezista dos Afectos- Lázaro

"... Paira no ar assombrada pela vontade que as coisas parecem ter, suspensa na respiração estilhaçada que se adivinha cá em baixo, medo etéreo e comum que a realidade se desmembre.
De cá para lá não sabe o que fazer do contorno perfeito de um corpo que desafia a gravidade e, nesse vaivém, atenta na hipótese de uma terra-chão que lhe aquiete o movimento perpétuo para poder, enfim encontrar a tranquilidade que ora lhe falta pela impossibilidade de pensar os pensamentos que pouco prováveis são de põr em palavras de razão as sensações que lhe tangem a pele. volteia em espirais infinitas num bater de asas de anjo que lhe reforçam a beleza do rosto e por ali se perde na recusa de tocar a fimbria de uma qualquer humana e banal resignação.

Quer-se  feliz e não antevê o seu portal. Sabe que o principio das coisas é o preludio da imagem de si, esse espelho tridimensional do investimento amoroso nela depositado, na contrapartida de que se sabe capaz de ofertar como tributo, e dessa outra mais valia de reserva que terá sempre de resguardar para não sucumbir face á perda de um qualquer objecto amado. Mas, para mercar tão divino sentir, sabe da emergência de dar nome a cada emoção que lhe rompe o peito, contradita na impostura maior do abuso das palavras que lhes vai esvaziando o sentido alvoraçado com que foram pronunciadas numa primeira vez.

(...)E por cada vez que atravessa o céu de fantasia estrelada na sua tenda de circo, sabe que a liberdade de ser e sentir está muito além, depositada noutra  tenda maior que nos cobre a todos no infinito do universo.

É urgente uma rede para repousar, uma queda sem medo dessa altura em que se vê perpetuamente até á exaustão. Mas isso requer um olhar, um único e definitivo olhar, onde aporte sem temor o seu medo de existir. Olha o publico cá em baixo e tenta adivinhar qual daqueles rostos será o portador da boa-nova, o perfume que pressentiu em cada noite de insónia, a mão que lhe afague o rosto e não espere mais que isso em troca, os lábios que possa beijar antes de adormecer ne certeza que a madrugada seguinte lhe trará o mesmo goeto salgado de um desejo por cumprir.

Amanhã, quiçá, outros espectadores virão e entre eles a serenidade de uma voz lhe diga: desce, meu amor, que tenho em mim espeço para contigo pensar os teus pensamentos, e juntos encontraremos cada nome para cada uma das nossas emoções."

In Escrever nas Paredes, de um grande Amigo -João Lázaro

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