11/01/13

Uma aranha


"A minha raiva fica tolhida entre quatro paredes. Fazendo ricochete nas placas de estuque, nos azulejos, nas tábuas e no papel de parede, as minha explosões de raiva são-me devolvidas, colam-se à minha pele, impregnam-se na minha pele. Embora eu possa parecer uma máquina com dois polegares móveis que faz trabalhos domésticos, na realidade sou uma esfera que gira com uma energia violenta, pronta a explodir mal algo me toque. E embora haja, dentro de mim, um impulso que me incita a ir lá para fora explodir, inofensivamente, no meio do nada, receio que haja um outro impulso - sou cheia de contradições - dizendo-me para me esconder num canto com uma aranha, a viúva negra, e lançar o meu veneno a quem passar por perto. «Toma, pela juventude que nunca tive!», cicio eu e cuspo, se é que as aranhas sabem cuspir." 

In The Heart of the Country, J. M. Coetzee

Sem comentários:

Enviar um comentário

Respirem fundo e desabafem,:)