29/03/13

Não apenas corpos, mas pessoas.



"Na visão de mundo actual, a Ciência
tomou o lugar de Deus...
mas alguns problemas filosóficos
ainda nos perturbam.
Livre-arbítrio, por exemplo.
Este problema está na berlinda
desde Aristóteles, em 350 a.C.
Santo Agostinho e São Tomás de Aquino
questionavam "como sermos livres...
se Deus já sabe tudo
o que iremos fazer?"
Hoje, sabemos que o mundo é regido
por leis físicas fundamentais.
Essas leis regem o comportamento
de cada objecto do mundo.
Como essas leis são confiáveis,
viabilizam avanços tecnológicos.
Nós somos sistemas físicos. Arranjos
complexos de carbono e de água.
O nosso comportamento não é
excepcão a essas leis.
Logo, se é Deus a programar isto
de antemão e a saber de tudo...
ou se são leis físicas a governar,
não há muito espaço para a liberdade.
Pode-se querer ignorar
o mistério do livre-arbítrio.
Dizer: "É uma anedota
histórica, uma inconsistência.
É uma pergunta sem resposta.
Esqueçe isso."
Mas a pergunta permanece. Quanto
à individualidade, quem tu és...
baseia-se nas livres escolhas que fazes.
Ou pelas quais te responsabilizas.
Só se é responsabilizado,
ou admirado, ou respeitado...
pelas coisas que se faz
pela própria escolha.
A pergunta retorna sem cessar
e não temos uma solução.
Decisões podem parecer enigmas.
Imagina só. Há actividade eléctrica
no cérebro. Os neurônios disparam...
enviando um sinal através dos nervos
até aos músculos. Estes contraem-se.
Estendes o braço.
Parece uma acção livre...
mas cada parte desse processo...
é governada por leis físicas,
químicas, elétricas etc.
Parece que o Big Bang
causou as condicões iniciais...
e todo o resto
da História humana...
é a reacção de partículas subatómicas
às leis básicas da física.
Nós achamos que somos especiais,
que temos alguma dignidade.
Isso agora está ameaçado.
Está a ser desafiado por este quadro.
Podes dizer: "E quanto à mecânica
quântica? Conheço o bastante...
para saber que é uma
teoria probabilística.
É frágil, não é determinista.
Permite entender o livre-arbítrio."
Mas, se olharmos detalhadamente,
isso não ajudará...
porque há as partículas quânticas
e o seu comportamento é aleatório.
São meio transgressoras.
O seu comportamento é absurdo...
e imprevisível. Não podemos estudá-Io
com base no que ocorreu antes.
Tem um enquadramento probabilístico.
Será a liberdade apenas
uma questão de probabilidade?
Aleatoriedade num sistema caótico?
Eu prefiro ser uma engrenagem 
numa máquina física e determinista...
que uma transgressão aleatória.
Não podemos ignorar o problema. Temos
que incluir pessoas nesta perspectiva.
Não apenas corpos, mas pessoas.
Há a questão da liberdade...
espaço para escolha, responsabilidade
e para entender a individualidade."

In Waking Life

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