O meu corpo espalha incêndios.
Estou certo de que não terás mais
de viver comigo ou com o que resta de mim.
Deixo-me adormecer durante horas para
que saibas que me afasto a passos largos,
com sombras por detrás.
O meu corpo, por onde quer que vá,
espalha incêndios que não me recordo
como apagar - pensar que um fogo assim se
alimenta cresce reproduz-se e morre
e que nada mais deixa a pedir.
Para que hoje eu entre pela porta
bastará que os nossos corpos se encontrem
num lugar onde não vou dizer.
Chegarás, por teu pé, aonde os velhos descansam
e onde cicatrizes rolam pelo corpo
e pela consciência.
Com o tempo, o que não aprendeste
quando nasceste torna-se inerente a ti, torna-se
um braço, uma mão, um dedo que se estende
na memória e que aponta no mapa da cidade
a casa
as paredes e o soalho
as prisões os âmagos de quem partiu de
lá - como nós.
E por hoje, fico com fome.
Pelos caminhos as fogueiras como pequenos faróis
no nevoeiro que levanto ao caminhar
enquanto que os meus pés se tornam
rasgos na estrada e eu me dilúo na multidão
para ser escrito.
E um jovem toca-me no ombro e então
desperto e estou próximo a dois passos
do que deixei para trás.
Sérgio Xarepe
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