Tropecei na angústia outra vez.
De um momento para o outro, talvez ao som de uma
balada qualquer, dei por mim angustiado. Não encontrei
motivos. Nem sequer tive a preocupação de os procurar. Estava
sozinho e recordo agora que nada podia fazer. Da angústia
nasce a tristeza e da tristeza deriva a saudade. Saudade de
quê? De momentos em que não fazemos perguntas a nós
próprios, sabendo à priori que não conseguimos responder.
Estou agora no meu quarto, só. Tento agarrar-me a
qualquer coisa que aguente o peso do meu corpo – pedaços de
frustração ligados por veias e ossos e músculos. Encontro a
cama onde me deito. O comando remoto abre a televisão num
canal de música. A batida ritmada confunde-me e penso em
adormecer. Apago o televisor e acendo a luz do candeeiro.
Folheio um livro que ainda não comecei a ler. Sem paciência,
viro a almofada e a frescura na face sabe a massagens de uma
profissional. Em breve chegarão umas dores no peito que me
incomodam há vários dias. Depois prometo a mim mesmo que
vou deixar de fumar.
Para contrariar, acendo um cigarro e, finalmente, começo
a pensar na angustiante sensação de ter uma pedra (mármore
de certeza) a doer na garganta, a apertar o meu peito.
Somos feitos de quê, afinal?
Que espaço têm na nossa vida as frustrações, as
desilusões, a vontade de não ter vontade para fazer nada?
Quais serão os ingredientes dos nossos sentimentos?
As dores no peito chegam devagar. Como a névoa que
aparece lá fora, a esconder a cidade que me rodeia.
Levanto-me e tomo dois comprimidos que me irão
adormecer sem eu dar por nada. Assim abandono os meus
medos, as perguntas e, consequentemente, as desagradáveis
respostas.
Deito-me novamente e tento não pensar.
Acordo em sobressalto. A respiração está ofegante. Não
consigo lembrar-me do sonho que me abandonou, assim, no
leve abrir do dia.
São sete da manhã e sinto que não voltarei a adormecer.
Deito-me na banheira, previamente enchida com água morna.
O futuro aproxima-se a cada segundo que passa, em
passos lentos, bem sei! (...) É esta angústia, desconfio...
Horas Vagas. Rui Fonte
Triste... mas bonito
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