"Fui procurá-lo porque todos me pareceram demasiado longe ou insuportavelmente próximos.
Cheguei a sua casa já arrependida da minha decisão de lhe pedir asilo sentimental. Cheguei ao tempo em que o luar de Agosto vinha afogar a cidade vazia. Tinha comigo uma mal pequena, um grande desgosto e a tristeza dos olhos sem medida possivel.
Abriu-me a porta, sorriu sem ficar surprendido.
__ Deixa -me ficar... , pedi eu.
Puxou-me calmamente até à sala, fez-me pousar a mala no chão. Na cozinha, vi a luz acesa e a mesa posta para o jantar.
__ Acompanhas-me?, perguntou-me, indicando com um gesto a mesa posta. Notei-lhe o mesmo sorrir de sempre, distraido e triste, como quem tivesse nascido com o sorriso estampado na face e nunca sorrisse por vontade, mas por acaso de feições.
__ Não tenho fome.
__ Óptimo! Acompanhas-me, então! Obrigar-nos-emos a comer!
Levou-me pela mão até à cozinha. Ajudei-o a completar a mesa para dois. Depois trouxe velas e acendeu-as, pondo-as nas duas extremidades da mesa:
__ Um jantar pode ser triste, mas nunca deselegante!
(...)
in Terra de Lidia, de Maria Orrico
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