Vou fazendo
horas - metade da vida é uma perdulária expectativa. E tonta. E ansiosa. E
inútil. Como quem se sentou numa gare de caminho-de-ferro, à espera de um
comboio que não se sabe quando passará e qual o seu destino. Certeza, e
relativa, está apenas no local de espera. E às vezes na própria espera. Se
chegamos a concretizar a viagem, o lugar aonde o comboio nos levou,
desilude-nos. Isso, porém, não impede que tudo venha a repetir-se.
Desperdiça-se o instante real e concreto, mas que, como areia, se nos escapa
das mãos, em favor de uma ilusória vez seguinte.
Fernando Namora, in 'Jornal sem Data'
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