Era uma mulher. Viveu entre há 30 a 50 mil anos. E, sem que o
suspeitássemos até agora, pertencia a um grupo de humanos diferente de
nós, mas que se reproduziu com a nossa espécie. Eis a Mulher-X, o
primeiro indivíduo identificado desse grupo.
Este novo capítulo na história complexa da nossa espécie, os humanos modernos ou Homo sapiens sapiens, é contado amanha na revista Nature,
pela equipa de Svante Pääbo, guru mundial da paleoantropologia genética
do Instituto Max Planck para a Antropologia Evolutiva, em Leipzig, na
Alemanha.
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Em 2008, encontrava-se a ponta do dedo de um humano na Sibéria, na
gruta Denisova. Pensando estar perante a falange de um humano moderno,
talvez de um Neandertal com sorte, a equipa de Pääbo sequenciou o ADN
extraído desse pedaço de osso — não o ADN do núcleo das células, mas o
que está nas mitocôndrias, as baterias das células e que é herdado só
pela parte da mãe.
Quando viram os resultados, os cientistas não queriam acreditar: tinham
em mãos ADN de um humano antigo desconhecido, pertencente a uma
linhagem diferente das duas que até aqui se sabia terem habitado a
Europa e a Ásia nessa altura — os humanos modernos, que saíram de África
há cerca de 60 mil anos, e os Neandertais, que surgiram na Europa e
Médio Oriente há 300 mil anos e extinguiram há cerca de 30 mil. Em Março
último, a equipa revelou esses resultados, também na Nature, e espantou toda a gente.
Era também a primeira vez que um novo grupo de humanos era descrito não
a partir da morfologia dos seus ossos fossilizados, mas da sua
sequência de ADN.
Só pelo ADN das mitocôndrias, que está fora do núcleo das células, os
cientistas não podiam saber se aquela falange, de um indivíduo com cinco
a sete anos de idade, era de homem ou mulher. Mas deram-lhe a alcunha
de Mulher-X, porque o ADN mitocondrial é matrilinear e porque gostavam
de imaginar que era de uma mulher.
Depois, partiram para a sequenciação do ADN contido no núcleo celular e
é a análise desses resultados que agora publicam. Além de confirmarem
que a falange é mesmo feminina, os cientistas dizem que este novo grupo
de humanos partilha um antepassado comum com os Neandertais, mas cada um
seguiu uma história evolutiva diferente. Portanto, há 50 mil anos, além
de nós e dos Neandertais, havia um terceiro grupo de humanos.
Chamaram-lhe denisovanos.
Extraído de http://publico.pt/1472203
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