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"Tratam-nos mal, mas querem
que as tratemos bem. Apaixonam-se por serial-killers e depois queixam-se de que
nem um postalinho. Escrevem que se desunham. Fingem acreditar nas nossas
mentiras desde que tenhamos graça a pregá-las. Aceitam-nos e toleram-nos porque
se acham superiores. São superiores. Não têm o gene da violência, embora seja
melhor não as provocarmos. Perdoam facilmente, mas nunca esquecem. Bebem cicuta
ao pequeno-almoço e destilam mel ao jantar. Têm uma capacidade de entrega que
até dói. São óptimas mães até que os filhos fazem 10 anos, depois perdem o
norte. Pelam-se por jogos eróticos, mas com o sexo já depende. Têm dias. Têm
noites. Conseguem ser tão calculistas e maldosas como qualquer homem, só que
com muito mais nível. Inventaram o telemóvel ao volante. São corajosas e quando
se lhes mete uma coisa na cabeça levam tudo à frente. Fazem-se de parvas porque
o seguro morreu de velho e estão muito escaldadas. Fazem-se de inocentes e
(milagre!) por esse acto de vontade tornam-se mesmo inocentes. Nunca perdem a
capacidade de se deslumbrarem. Riem quando estão tristes, choram quando estão
felizes. Não compreendem nada. Compreendem tudo. Sabem que o corpo é
passageiro. Sabem que na viagem há que tratar bem o passageiro e que o amor é
um bom fio condutor. Não são de confiança, mas até amais infiel das mulheres é
mais leal que o mais fiel dos homens. São tramadas. Comem-nos as papas na
cabeça, mas depois levam-nos a colher à boca. A única coisa em nós que é para
elas um mistério é a jantarada de amigos – elas quando jogam é para ganhar. E é
tudo. Ah, não, há ainda mais uma coisa. Acreditam no Amor com A grande mas,
para nossa sorte, contentam-se com pouco."
Rui Zink, in "Jornal Metro"
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