07/04/13

"Rofrago"



Detestava a tirânica decisão de seu PC, dos analistas de sistemas ou da realidade de fazê-lo esperar sem que tivesse sequer o direito de reclamar.
Quando ouviu o som do programa sendo iniciado, se aproximou, posicionou o cursor sobre o ícone que mostrava o pequeno telefone amarelo e clicou duas vezes com o botão esquerdo do mouse. Em seguida voltou à cozinha, desta vez com a desculpa de dar uma olhada na geladeira para confirmar que não havia nada tentador, embora na verdade quisesse evitar que sua máquina o visse ansioso e impotente esperando que a conexão com a internet fosse
completada.

Roberto mantinha com seu computador essa relação de amor e ódio compartilhada por todos os internautas. Como todos, ele sobrevivia com maior ou menor dificuldade – dependendo do dia – a essa relação ambivalente que se tem com aqueles que amamos quando nos damos conta de que dependemos de seus desejos, de sua boa vontade ou de algum de seus caprichos.

Porém, hoje o PC estava em um de seus bons dias. Havia carregado os programas rapidamente e sem ruídos estranhos e, o que era melhor, (...)

Nada disso. Hoje era um dia maravilhoso. Entrou em seu provedor de e-mails e digitou automaticamente sua senha. A tela piscou e a janela de boas-vindas do programa se abriu.

“Olá, rofrago. Você tem (6) novas mensagens (...)

in Amar de olhos abertos,  Jorge Bucaye Silvia Salinas

Sem comentários:

Enviar um comentário

Respirem fundo e desabafem,:)