Privamo-nos
para mantermos a nossa integridade, poupamos a nossa saúde, a nossa capacidade
de gozar a vida, as nossas emoções, guardamo-nos para alguma coisa sem sequer
sabermos o que essa coisa é. E este hábito de reprimirmos constantemente as
nossas pulsões naturais é que faz de nós seres tão refinados. Porque é que não
nos embriagamos? Porque a vergonha e os transtornos das dores de cabeça fazem
nascer um desprazer mais importante que o prazer da embriaguez. Porque é que
não nos apaixonamos todos os meses de novo? Porque, por altura de cada
separação, uma parte dos nossos corações fica desfeita. Assim, esforçamo-nos
mais por evitar o sofrimento do que na busca do prazer.
Sigmund Freud, in 'Correspondência (1883)
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